Não há centro compositivo,
mas acúmulos em zonas centrais, nem molduras isolantes, mas
fantasmas transicionais: a impressão brutalista é
correspondida por ação desassombrada da mão na técnica
mista, como também na linoleogravura, pinceladas que,
retornando à politipia, metamorfoseiam-se como
aplicação direta de tinta gráfica, ora com rolo,
ora com recorte de linóleo, na produção de
tinturas rutilantes. Desmanteladas as convergências compositivas
e filtradas as técnicas, agregam-se aos referidos pontilhismo e
simbolismo efeitos pop e expressionistas, de sorte que em ambas as
gravuras as técnicas se misturam e, justapostas, nada unem. A
intervenção manual vinda de fora da prensa, de pincel,
rolo, recorte, desmancha os resíduos procedimentais da arte de
Sérgio que oscila, em 1999, como as outras identidades,
não menos idealizadas, de espécie estilística,
iconográfica, matérica ou outra.
Na desidealização, doravante hegemônica, o
emotivo pende do riso, logo, de olhos tornados bocas rasas; brabo
olhar, tal riso seca olhos anímicos, impedidos de
contemplação celestial. Na oscilação de
Sérgio, acede-se, finalmente, ao gênero baixo, que insiste
no abalo da elaboração artística, coincidindo os
tempos do mesmo abalo e o desta enunciação. É no
escancaramento atual que se consideram aspectos artísticos
antes desprovidos de visibilidade, como o estilo e a iconografia, no
que diz respeito ao objeto. É claro que Sérgio não
estiliza na linha das tendências modernas, pois o que está
em jogo, nele, é o confronto da idealização e da
desidealização em todas as artes. Neste sentido, a
recentíssima produção de cabeças, feitas de
partes justapostas disponíveis de linóleo, não
pode ser desconhecida porquanto em tudo distinta da
composição; é multiplicidade que não forma
constelação, mas, como magma, migra. Em
posição aberta como esta, e humorada, nenhuma
direção se fixa e, longe do cristal, suspendem-se as
articulações antes vigentes. Triunfal em Sérgio, o
lapso não solicita balanço de resultados futuros,
não havendo ganhos ou perdas contábeis.
*
Leon
Kossovitch
Nasce em Berlim,em1942. Como engenheiro civil, trabalha em diversas
obras residênciais em São Paulo. Formado em filosofia,
apresenta dissertação de mestrado sobre a filosofia de
Nietzsche em 1970 e defende, em 1982, tese de doutorado sobre a
filosofia de Condillac. Leciona no Departamento de Filosofia da USP,
dedicando-se a estudos sobre as artes renascentistas e
centro-asiáticas. Publica Signos e Poderes em Nietzsche
(São Paulo, Ática, 1979), Hélio Cabral (São
Paulo, Edusp, 1995) e diversos ensaios e artigos em que aborda
questões de história da arte, crítica e filosofia,
e faz, especialmente, análise do trabalho de artistas
plásticos.
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